Monday, April 03, 2006

Picasso no Labirinto



Palau i Fabre foi um dos grandes amigos de Picasso e um dos melhores conhecedores da sua obra, que acompanhou de perto quando dos seus tempos de Paris,onde dirigiu o Instituto Espanhol.
É de sua autoria um importante ensaio sobre a série de desenhos do Minotauro (figura mítica com a qual o pintor muito se identificou ) e que consta de um volume colectivo dedicado ao tema do Labirinto (Centre Culturel Portugais,Fondation Gulbenkian,Paris,1985).
O Minotauro surge na obra de Picasso, escreve Palau i Fabre com uma intenção puramente estética "em aparencia", no ano de 1928.Dá-se então uma "feliz convergencia de Cubismo, Colagem, união do Clacissismo e do Surrealismo".
Mas, nota o estudioso ,repara-se a-posteriori que este quadro, de que haverá uma série um pouco mais tardia,foi executado dez anos depois do casamento de Picasso com Olga e um ano após o seu encontro com Marie-Thérèse e que assim se reveste de um significado muito especial na sua vida, anunciando as interpretações que faz em 1933.
O convite que lhe é dirigido por Albert Skira para fazer a capa do primeiro número da revista MINOTAURO "desencadeia o reaparecimento e a implantação desta figura mitológica na obra do artista".
Os minotauros que se sucedem serão muito diferentes, ainda que portadores da forte energia sensual e sexual que o mito comporta, e também fazem parte da cultura taurina ( paixão de Picasso como de Hemingway ). São figuras impregnadas do que Palau define como " atitude geral do surrealismo e dos seus postulados subversivos" a que o artista tinha aderido. Nesta fase o minotauro surge belicoso, de punhal em riste, ameaçador.
O labirinto de Picasso é estético, na intenção, e "plástico" como se disse.Contudo há nele uma inquietante solidão, de que o veremos posteriormente libertar-se (quando o próprio Picasso se liberta de Olga, e Marie-Thérèse tem uma menina sua).

Numa série de gravuras feitas a partir de 17 de Maio de 1933, Minotauro humaniza-se, e ultrapassa a condição animal, quase selvática de algumas das anteriores. É certo que sempre rodeado de figuras femininas, que seduz e a ele se entregam.
O artista "apropriou-se do mito" ,da personagem tal como a tinha vivido antes.
Diz Palau: " Minotauro permite-lhe esvaziar-se,manifestar-se, e compete-nos a nós penetrar no seu labirinto".De que modo? Tentando, pela contemplação da beleza e da força criadora das gravuras, decifrar o que de algum modo será sempre uma linguagem cifrada, pois nunca por completo a obra de arte é explicável e as referencias aos pormenores biográficos se não forem ultrapassadas serão documento, mas não arte. Na sua arte o artista esconde-se, mais do que se revela.

Em 1934, nova série de Minotauros, que Palau estuda cuidadosamente em relação com a vida pessoal de Picasso, pois é em parte dela que o Minotauro recebe ora a força e a alegria, ora a melancolia, ora o dom do rejuvenescimento e de redenção dado po Ariadne. Deixo também no blog esta última imagem, em que se vê um minotauro envelhecido, cego como o Fausto de Goethe no fim da vida, e agora conduzido por uma criança que tem na mão um ramo do trigo que colheu e será, supomos, o alimento de vida que a terra, (a anima) do artista voltará a receber.
Não é por acaso que o nome dado à filhinha é Maya.

2 comments:

Elsa Gonçalves said...

Este não é um comentário ao post. Nem podia. Por ora!
Mas é uma resposta ao mail que me veio por reenvio. Espero que possamos trocar amêndoas da páscoa e continuar a descobrir ovinhos escondidos. Sempre com o espanto de coisa bonita descoberta, que é o que tem sido esta ciber ... troca, ligação, relação...ou sei lá!
Perguntei à Ligia, a minha filha de 12 a caminho dos 13, o que gostam as meninas daquela idade. Acreditou que era um jogo, a ela destinado, porque faz anos em Maio, mas deu umas dicas, que passo a referir tal como me foram comunicadas:
1 - Calças ou saias do Velho (depois posso explicar o que é o velho)
2 - Swatch (há um especial para meninas mais gordinhas que é grande mas "muta giro"!, que não é o caso dela que é fininha, fininha)
3 - MP3
4 - Ténis "ALL STAR" em bota (há uns com flores especialíssimos)
5- Nos livros há dois títulos:
"O guarda da praia" e "A praia do destino" ... que desconheço, mas sobre os quais tentarei obter informações a breve trecho.
Se encontrar aqui alguma opção satisfatória, ficarei contente.
Estou a despachar trabalho, a usar a imaginação e a retórica possíveis para o julgamento de amanhã...mas estas são coisas para outro espaço. Só para justificar a falta de "prosa e poesia" e a estreitura do verbo.
Querida Yvette, um beijinho de boa noite.
maria (Elsa Viegas)

Yvette Centeno said...

Querida eu fico com o MP3 para presentinho, a minha neta mais velha também tem um e adoram, diz o meu filho.
Fica guardado o segredo até ao lindo mês de Maio. Eu como só tive rapazes só agora, com as netas, é que vou redescobrindo as coisas de que as meninas gostam.
Mas a mais velha ainda só vai fazer dez anos.
Doze muda muito.
bjs., Yvette