Saturday, July 29, 2006

Homenagem a Magritte



Alice

É do lado de cá do espelho
que corremos perigo.
Do lado de lá
tudo tem solução:
Alice espera por nós,
Alice dá-nos a mão.

Thursday, July 27, 2006

Mr. Pessoa

ON FIRST LOOKING into Honig's Pessoa

This man was three or five or many poets,
All with their own names, all with their own lives,
Writing in Portuguese and broken English sonnets,
A pagan, a parnassian....
....
And that which poetry is all about,
The metaphysician sick of metaphysics,
SOLEMN INVESTIGATOR OF USELESS THINGS.
Fernando Pessoa, as you saluted Whitman
With one hand tied behind you back.
I salute you, Honig and Octavio Paz.
(KARL SHAPIRO)

Poema escrito por Karl Shapiro na contracapa da tradução de O Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro, por Edwin Honig e Susan Brown , New York 1971, 1985,1986.
Destaco este livro por ter sido pioneiro no esforço de dar a conhecer a obra de Fernando Pessoa pela voz de Alberto Caeiro, sempre surpreendente (e não teria que ser assim ?) quando o relemos.
Eis o célebre n.9. Sou um guardador de rebanhos:

IX. I'M A KEEPER OF SHEEP

I'm a keeper of sheep.
The sheep are my thoughts
And my thoughts are all sensations.
I think with my hands and feet
And with my nose and mouth.

To think a flower is to see it and smell it
And to eat a fruit is to taste its meaning.

That's why on a hot day
When I ache from enjoying it so much,
And stretch out on the grass,
Closing my warm eyes,
I feel my whole body lying full length in reality,
I know the truth and I'm happy.


Conhecendo a totalidade da obra de Pessoa sabemos como é mentiroso este último verso: nunca o poeta se sentiu dono da verdade e ainda menos desse impossível e indefinível sentimento de ser feliz. Só não mente quando escreve o célebre poema do Fingidor.
Pessoa desdobra-se para se apagar? Para que, no excesso, se possa finalmente reduzir a um único centro, o da sua consciência ?

Continuo com a tradução de Honig, para que os meus leitores de língua inglesa se deliciem. Dos meus comentários eles não precisarão.

XXX. IF THEY WANT ME TO BE A MYSTIC, FINE.I'M A MYSTIC

If they want me to be a mystic, fine, I'm a mystic.
I'm a mystic, but only of the body.
My soul is simple and doesn't think.

My mysticism is not wanting to know.
It's living without thinking about it.

I don't know what nature is: I sing it.
I live on a hilltop
In a solitary whitewashed cabin.
And that's my definition.


This translation was awarded the prize of THE POETRY SOCIETY OF AMERICA

Ramos Rosa,Homenagem a Paul Celan

O António Ramos Rosa sabia como gosto da poesia de Paul Celan.
À sua boa amizade devo este poema que me mandou, de homenagem a Celan, envolvendo a importancia de dizer, e de dizer o Nome. Por ser belíssimo o transcrevo:

HOMENAGEM A PAUL CELAN

"Forma-irmã, coroa vazia
sobre a água, lâmpada e amêndoa,
talvez alma solar,
mas também polvo da sombra
com os nomes queimados.
Onde te escondes? Esperas talvez
uma palavra ou uma carícia nua,
um sopro...Se a torrente branca
do vazio
se ouvir
talvez tu estales
com um só olho de sombra
em que dormem as duas mãos da alba.
Com um latido de urgência
mas sem fatal avidez
reúno as iniciais vazias do teu nome
para te abraçar
antes que tenhas um sentido
antes que te evapores".

António escrevia "em diálogo": a sua poesia adquiria também, deste modo, uma amplidão maior, indiscutível.
Aqui fica a minha homenagem sentida.

Tuesday, July 25, 2006

Sir Gawain and the Green Knight



" These translations by Marie Borroff not only are one of the great achievements of the translator's craft but are works of art in their own right" Lee Patterson,YALE UNIVERSITY.

Encontramos neste romance de cavalaria, para além da sua alta qualidade literária, o que faz dele um clássico de seu pleno direito, como observa M.Borroff na introdução, a marca da tradição cavalheiresca medieval:serviço leal ao rei, serviço cortês à dama, bravura destemida ao defrontar os cavaleiros adversários.
Neste romance, como nos outros conhecidos, de que Parzival foi o mais celebrizado pelas versões que teve e pelo tratamento que Wagner lhe veio a dar, haverá TENTAÇÃO, QUEDA, REDENÇÃO - momentos que na aventura da vida do herói contribuem para uma exemplar modificação do seu carácter, tornado assim mais nobre e mais humilde, por mais nobre.
Sir Gawain é chamado a defrontar o CAVALEIRO VERDE, que o recebe no seu sumptuoso castelo, lhe oferece magníficas caçadas e usará também a sua própria mulher como isco para o fazer cair nas armadilhas do desejo.
Não vou contar o enredo todo.Mas chamo ainda a atenção para um pormenor muito importante, que é o desvendar do nome: só quando o cavaleiro verde diz a Gawain o seu nome verdadeiro, descrevendo a sua linhagem, podem ambos selar uma amizade feita de perdão e entendimento.

How runs your right name? - and let the rest go.
That shall I give you gladly, said the Green Knight then;
Bertilak de Hautdesert, this barony I hold.
Through the might of Morgan le Fay, that lodges at my house,
By subtleties of science and sorcerer's arts,
The mistress of Merlin, she has caught many a man,
For sweet love in secret she shared sometime
With that wizard, that knows well each one of your knights
and you.
Morgan the Goddess, she,
So styled by title true;
None holds so high degree
That her arts cannot subdue.

Em resumo, foi a fada Morgana que levou o Cavaleiro Verde a desafiar um dos da Távola Redonda, por se ter sabido que era grande (desproporcionado) o orgulho desses cavaleiros. Entra aqui um novo conceito , o de "degree", medida, ordem, de acordo com o que deve ser a harmonia natural do ser humano, sabendo cada um o lugar que lhe compete e o comportamento que dele se espera, em cada situação. Este conceito de degree será muito glosado nas peças de Shakespeare: onde a ordem se quebra ou se altera indevidamente logo a tragédia, ou pelo menos uma grande confusão, se instala.
Mais haveria a dizer sobre o papel de Morgana, apelidade de Deusa, neste texto.
Habitando (sem que se saiba porquê) o castelo do Cavaleiro Verde dá a indicação de ser um alter-ego da sua própria mulher, a tentadora que entra no quarto de Gawain depois de cada uma das caçadas, em que visivelmente o grande prazer é físico e em que cada um dos animais pode representar a força do instinto.
Morgana deusa da vegetação, o verde do cavaleiro sua marca distinta, a aventura toda a aprendizagem da "retenue" do desejo, o amor contido do trovador face à dama a quem não pode entregar senão as suas canções.
O que não significa, como é óbvio, que não se quebrasse, muitas e muitas vezes (todas ?) uma tal obrigação.

Tuesday, July 11, 2006

O Nome

Diz.

Diz o nome.

Escolhe
as sílabas.

Indica
as letras
com a tua marca
de fogo.

As cinzas
em breve apagarão
essa rara
existência.