Monday, November 13, 2006

Aires Mateus - Uma Arquitectura para o Futuro



Começo pelo Livro dos irmãos Aires Mateus: um livro que não é um catálogo mas um objecto de arte em si mesmo, pelo especial cuidado com o formato, o papel, a fotografia, o design - enfim a concepção no seu todo - que fazem do livro um objecto de grande elegância e beleza,como convém à nossa ideia de Belo.
O Belo (sim, o arquétipo de Platão)não se impõe, EXPÕE-SE, como disse Paul Celan àcerca da poesia.
E continuo com o conceito de Arquitectura que no livro se adivinha e se declara. Uma arquitectura para o presente e para o futuro, na medida em que sabemos que o futuro já está contido no presente.
Na obra dos irmãos Mateus deparamos com um exercício de Imaginário livre, depurado, lírico e místico até na sua pureza de linhas e de côr, como convém a uma sensibilidade moderna e modernista ( talvez devesse dizer também post-moderna? só que em vários criadores post-modernos se oblitera a função do objecto e tal não acontece nos modernistas nem no caso dos Aires Mateus).
Encontro nas obras reproduzidas no Livro a função essencial da relação com a natureza e a vida. Não falo de utilitarismo simplista mas sim de respeito, um sentimento mais nobre. Quem habita a casa gosta de ser amado pela casa que habita, quem visita um espaço gosta de se sentir bem acolhido.
Assim, com elegância e nobreza se recriam espaço e tempo - as medidas do Ser.
Na paisagem rural a casa está envolvida pelo corpo da terra-mãe.
Na paisagem citadina brilha a luz que reflecte todos os cambiantes.
O prazer do espaço amplo nas zonas de convívio define uma ideia de generosa partilha de vida: uma vida que se deseja fraterna e aberta na sua circulação e na sua respiração.
A pureza das linhas traz à memória arquétipos como os das construções do antigo Egipto - uma civilização que harmonizava o Belo com a função exigida. Por alguma razão os grandes arquétipos foram e são o Belo, o Bom e o Verdadeiro. O verdadeiro é bom por natureza e por isso é igualmente belo.
A arquitectura do futuro é como esta uma arquitectura da verdade : estética e ética formam os seus pilares, sem que em nada se prejudique ou perca a liberdade da imaginação.

( ed. Almedina )

1 comment:

Miguel Drummond de Castro said...

No caso do centro das artes em Sines, construído pelos Aires Mateus, permito-me discordar nalguns pontos. Não sendo o dito edifício medíocre tem, no entanto, uma dificuldade de acesso no seu interior.
Refiro-me aos sucessivos lances de escadas. Estes tem uns degraus mínimos. São escadas para meninas chinesas ou japonesas, daquelas de que nos conta o Wenceslau - de pé reduzido.
E isto por uma razão simples e vitruviana. porque nos degraus não cabe o pé! Não estou a a falar de pé desproporcionado. Um pé vulgar, a menos que seja de criança ou fauno, não cabe nas escadas.

Se aceder â câmara nupcial de Christian Rosenkreutz está bem que se faça com leveza, por assim dizer pé ante pé, para não despertar num susto a Fénix no seu Sexto grau (ainda só Pineal) de transformação, aceder a uma biblioteca pública e camarária é diferente.

Os Aires Mateus terão que repensar as escadas que fazem , naquele edifício , pelo menos. Em boa arquitectura não só para o futuro, mas para o presente e também retrocasualmente para o passado, porque também construímos para os nossos manes e para a memória alaya vijnana) as escadas lato senso são (antes de se chegar ao polidimensionismo do Escher) duplas: tem que ser ao mesmo tempo estéticas e funcionais. E para serem de facto belas tem que ter também bondade. Naquelas escadas do Centro das Artes só anões e japonesas despodoactivadas conseguem subir com alguma graça e tranquilidade. Descer aquelas esacdas para o mortal comum e mesmo para o imortal de Sétimo grau, com o Kether aberto, torna-se um exercício sem estabilidade.

Tem, no entanto, para ser justo, alguma qualidade aquele edifício. O espaço do café é o mais conseguido, a varanda interioriza uma vista de Sines admirável e misteriosa, com uma serena beleza. Sines já lá estava, é certo, mas ficou a estar mais. E isso é um ponto muito positivo, um edifício que consegue aumentar a qualidade da ambiência em que se inseriu está a um ponto de ter uma justificação.

Mas aquelas escadinhas! Aquelas escadinhas! - e são três lances delas - dão um ar acanhado e comprometem a Subida ao espaço onde Aleph devia ter chegado a Aleph, mas por impossiblidade pedestre, chega com a adrenalina esbaforida.