Thursday, December 21, 2006

Gargantua


Mais histórias e mais imagens para recordar:
Les Albums de SAMIVEL, neste caso o GARGANTUA, segundo Rabelais, ed. Delagrave, Paris 1934.
Ou de como os excessos podem divertir e nós com eles aprender..No capítulo da disciplina de Ponocrates lemos como este estava decidido a mudar a vida de Gargantua mas sem fazer nenhuma revolução, " o que é um mau sistema".O método não era proibir, mas instruir.

Os da Resistencia




Outro livro da minha infância.
Conta as aventuras de dois diabinhos que, no inferno do Sr.Hitler, como é explicado pelos autores ( presos na altura, em 1944 ) pensam na melhor maneira de poderem fugir dali para fora.
"Eux aussi avaient leur Petite Braise - La Flamme de leur coeur- mais elle n'avait hélas ! aucun pouvoir magique, et ne pouvait pas fondre les barreaux de leur prison - de toutes les prisons - comme ils auraient voulu".
O livro foi dedicado , no Natal de 1944, deste modo:
Cet album, édité par C.D.L.R.
"Ceux de la Résistance"
est dédié aux enfants de France, en témoignage
d'une grande épopée.
Noel 1944

A memória de outros, transformada na nossa memória de sempre, não permite que se apague a chama do nosso coração.
Mas com ela precisamos de aquecer também o coração dos que agora nos rodeiam. Não se trata de um dever, mas de um verdadeiro acto de amor.

Contes des Mille et Une nuits



Este livro faz parte das minhas memórias mais antigas.
Enquanto o meu pai me lia a história eu contemplava deslumbrada as imagens.
As imagens ficaram na minha memória.
Naquele tempo um livro assim podia ser encontrado nas livrarias de Lisboa. Refiro-me a um tempo de há muito mais de meio-século.
A edição, de 1930, é da Librairie Delagrave. Mas o livro ainda conserva a vinheta da Livraria Portugalia, da Rua do Carmo.
Estas eram as prendas de Natal que me faziam sonhar e que agora mostro aos meus netos, esperando que os livros venham também a fazer parte das suas memórias felizes.

Thomas More por Hans Holbein jr. 1527



" Uns sentam-se nas tabernas e, no meio dos copos, emitem juízos sobre o talento de quem escreve e com grande autoridade criticam, tanto quanto lhes apraz, quem quer que seja, pelos seus escritos como se lhes puxassem pelos cabelos; eles, entretanto, sentem-se ao abrigo de tudo, e, como se costuma dizer, fora do alcance, pois tão lisos e tão bem barbeados andam em todo o corpo estes homens de boa vida que nem um cabelo têm por onde possam ser apanhados. Alguns são, além disso, tão ingratos que, mesmo quando se deliciam perdidamente com uma obra, nem por isso apreciam mais o seu autor; nada diferem dos convidados sem educação que, depois de terem saboreado largamente um opíparo banquete, partem para casa a arrotar, mas sem agradecerm àquele por quem foram convidados".
( UTOPIA, ed. fac simile 1518, trad. Aires A. Nascimento )

Comentário natural : outrora como agora ?

Thomas Morus



Utopians of the world, pay attention to this splendid fac-simile critical edition of Morus UTOPIA, presented with an Essay by the hand of one of the most eminent scholars and connaisseurs of Humanism and Renaissance, Prof. José V. de Pina Matins, former director of the Educational Department of the Fundação Calouste Gulbenkian.
The present director, Dr. Manuel Carmelo Rosa is now responsible, with great success, for the further development of educational and scientific activities in the Foundation, of which this is a magnificent example. We should be grateful for the dedication and enthusiasm Pina Martins during so many years put in this project.
Last, but not least, let us praise Prof. Aires A. Nascimento, responsible for the critical edition and portuguese translation.
I cannot think of a better gift for the coming NEW YEAR.

Wednesday, December 20, 2006

O Alimento do Graal



No seu quadro " A Virgem do Santo Graal " de 1857, Dante Gabriel Rossetti expõe de forma completa a simbólica da taça da Abundância, espiritual e material, segundo a tradição messiânica de Joachim de Fiore.
O Reino do Graal é o Reino do Espírito Santo, o terceiro reino do mundo, depois dos anteriores que tinham trazido a revelação do deus único, redentor. Neste último reino, do Espírito Santo, se iniciaria a época da abundância, depois de muita carência, não só espiritual, com a degradação dos tempos, como material com as fomes e as pestes que assolavam a Europa.
É no seu LIBER FIGURARUM, o Livro das Figuras, que o visionário descreve o último dos tempos.
A tradição do Graal prende-se a estas visões, não porque os seus autores tenham podido ler o códice, mas porque tais predições corriam, de uma época de abundância em que Deus redimiria o mundo de todo os sofrimentos e injustiças, para sempre, através da manifestação do seu glorioso Espírito.
As doutrinas foram espalhadas sobretudo pelas ordens mendicantes, mais próximas dos pobres e suas necessidades.
Em Portugal, por exemplo, a Rainha Santa Isabel é um dos expoentes da doutrina: veja-se o milagre do pão transformado em rosas;o seu confessor e conselheiro era um padre franciscano.
Já no século XVII veremos o Padre António Vieira pedir, quando preso pela Inquisição em Coimbra, que lhe levassem o Livro das Figuras. Há muita doutrina que ele transpõe para a sua HISTÓRIA DO FUTURO.
E Lessing, no século do Iluminismo, não esquece Joachim de Fiore e o Livro, com a divisão dos três reinos, na sua obra fundamental para o estudo do deísmo alemão, A EDUCAÇÃO DO GÉNERO HUMANO.

Mas recuperemos a fonte, a descrição da cerimónia do Graal, tal como se encontra em Chrétien de Troyes ou em Eschenbach. No primeiro a procissão é descrita de forma breve; entra um jovem com uma lança na mão, branca e esplendorosa, com uma gota de sangue escorrendo pelo fio da lâmina até à sua mão; todos podem contemplar o seu mistério mas Perceval não ousa fazer perguntas, pois tinha sido aconselhado a ser discreto; segue-se depois o graal, nas mãos de uma bela jovem que dois criados antecediam, com lustres de ouro a iluminar a sala; quando ela chegou com o graal, uma enorme claridade se espalhou fazendo empalidecer a luz dos lustres; a seguir a esta jovem entrou outra com uma salva de prata; o graal era de ouro puro, cravejado de pedras preciosas; seguiu-se a lavar ritual das mãos, e a descrição das mesas em que um banquete riquíssimo é servido, enquanto o graal passa várias vezes pelo nosso herói sem que ele pergunte seja o que fôr; a descrição dos alimentos, dos vinohs e das sobremesas do banquete é tão pomenorizada que quase nos faz salivar- algo que acontecia certamente aos que se deliciavam a ouvir Chrétien narrando estas aventuras.
Quanto ao segundo dos autores, Eschenbach, a descrição que nos oferece não é menos significativa: entra primeiro um pagem transportando a lança que sangra; abre-se depois uma porta por onde surgem duas jovens de grande beleza segurando nas mãos candelabros de ouro; seguem-se damas de grande porte e nobreza dispostas em filas de quatro (tendo aqui este número um forte simbolismo, pois representa a perfeição da totalidade);as últimas quatro damas levavam nas mãos uma pedra preciosa que durante o dia o sol penetrava com os seus raios; era uma pedra com reflexos de granada, de grandes dimensões, comprida e larga para servir de tampo de mesa; era nesta mesa que o senhor do castelo era servido;a descrição continua até que chega a rainha, vestida de seda da Arábia e transportando finalmente um objecto "perfeito e ao qual nada faltava", chamado Graal; à roda da mesa onde foi pousado o Graal havia mais de cem outras,com toda a nobreza convidada; procede-se à lavagem das mãos e começa a refeição, constando de vinho em taças de ouro e pão que é trazido da mesa do Graal, juntamente com tudo o que cada hóspede pudesse desejar " comida fria ou quente, podendo repetir à vontade os pratos já comidos, ou pedindo outros novos que não se conhecessem"; haveria de tudo, pois o Graal era "a flor de toda a felicidade; trazia à terra uma tal plenitude de benesses que os seus méritos igualavam ou quase os que se reconhecem como sendo do reino do Céu". Também neste caso a descrição detalhada abre o apetite de quem lê ou quem ouve; tudo era possível de obter pela virtude do Graal.
Alimento físico e espiritual, saciando os desejos do corpo e os sonhos da alma, permitindo a felicidade que o reino do Espírito Santo pela boca dos messianistas vinha prometendo e adiando...

Sunday, December 17, 2006

Saturday, December 16, 2006

Genio e Loucura



Para os estudiosos e curiosos da obra múltipla de Fernando Pessoa recomendo a edição em dois tomos dos seus Escritos sobre GÉNIO E LOUCURA, em recolha e transcrição de Jerónimo Pizarro para a edição crítica que tem vindo a ser publicada pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
O trabalho de J. Pizarro merece os maiores elogios. Só quem não visitou outrora a velha arca, ou agora o espólio na B.N. para agrupar núcleos do mesmo ensaio ou dos mesmos temas, julgará que esse trabalho é fácil e directo, estando os documentos prontos a ser trabalhados para publicação; e omito as dificuldades de "ler" os mss.pois nem tudo o que Pessoa escreveu, antes pelo contrário, está dactilografado. A maior parte dos textos foi escrita à mão, em papéis muitas vezes de acaso, do escritório ou do café - enfim, só um grande amor à obra de Pesoa levará,como aconteceu neste caso, um estudioso a preparar mais volumes de uma edição crítica que tem sido morosa mas cujo resultado final é muito de louvar.
O passo seguinte é o de ampliar a discussão em torno destes escritos , tendo em conta as leituras de Pessoa, (a sua biblioteca) os temas então em moda, a herança de filósofos como Nietzsche , médicos e ensaístas que se debruçaram sobre a ligação entre génio e loucura, problemas de degenerescencia ( como os discutidos por Max Nordau, Freud e outros ) não esquecendo os grandes escritores que Pessoa leu e por vezes cita como cultores do fantástico e do maravilhoso que ele mesmo tenta cultivar, desde a sua juventude.
Um dos textos que logo me chamou a atenção foi o fragmento do conto intitulado THE DOOR : pela imediata relação que estabeleci com THE TURN OF THE SCREW, de Henry James, cuja obra consta da biblioteca de Pessoa.Da discussão da natureza da porta surgiria a discussão da natureza do mal, o mesmo podendo dizer-se da célebre porta do CASTELO DE BARBA AZUL.

Tuesday, December 12, 2006

NATAL 2006



No ano da Famíla.
Sagrada Família, séc. XVIII, Caza de Nossa Senhora da Aurora.

He noite de nascimento,
em que Deos mostrou seu dia.
He noite de gran memoria,
noite em dia convertida,
escuridão consumida
con gran resplendor de glória:
no meio mais luminosa
que no mundo nunca viste,
e de escura, fria e triste,
a mais doce e gloriosa.
Oh noite favorecida
de memorável coroa,
vista de Deos em pessoa,
começando humana vida!
dos anjos todos cercada,
dos elementos servida,
do Padre e Filho escolhida,
do Spirito Sancto espirada!

(Gil Vicente, AUTO DA FÉ )

Sunday, December 10, 2006

O PENSADOR


Sob a égide de RODIN, com o célebre pensador, o poema de um poeta discreto, Américo Gonçalves, que apresenta em SEARA DE PALAVRAS a sua colheita.
Livro de balanço de vida em escrita vivida, oscilando entre pensamento e sentimento, com alguma ironia distanciada como é o caso do poema "Olhares Cruzados".
Em "O Pensador" a reflexão é límpida e não oculta uma certa saudade melancólica, de si mesmo e do mundo, ao gosto de Bernardim ou do Pessoa tardio de alguma poesia rimada.
Eis o poema:

O PENSADOR

O Pensador rejeita obrigações.
Corre o espaço, mas sem meridianos
e sem montes que lhe tolham as ideias.

Quer vadiar sem tempos, nem monções,
contando os dias mas sem pensar nos anos.

Deita-se a dormir sobre as areias
divagando na Luz, fora do mundo.

Vê o tempo, mas nunca o Tempo é Alma,
já que a Alma-Razão vai definhando.

Vê a Causa a morrer no mar profundo
da lava que gorgola fervilhando.

Mas como é Pensador, lá vai pensando.


( Américo Gonçalves, Seara de Palavras, Lisboa, 2006 )

Knights of the Round Table


The Round Table was devised by Merlin " to embody a very subtle meaning. For in its name it mirrors the roundness of the earth, the concentric spheres of the planets and of the elements in the firmament: and in these heavenly spheres we see the stars and many things besides; whence it follows that the Round Table is a true epitome of the universe....When Merlin had established the Round Table he announced that the secrets of the Holy Grail, which in his time was covert and withdrawn, would be revealed by knights of that same fellowship ".
Far from every land, the legend goes on as told now to Perceval, be it Christian or heathen where chivalry resides, kinghts are seen flocking to the Round Table.
With merit and luck they are made companions, and for the love and dedication to their cause they forsake father, mother, wife and children. Their cause is equal to a priesthood one, and therefore quite difficult to be always faithful to. Some will achieve their purpose, some others will have to return to the service of the Round Table instead of reaching the holy realm of the Grail.
Perceval will be the chosen one, something he does not know yet.
Asked about this mistery Merlin answered:
" There will be three shall triumph in this undertaking: two will be virgins, and the other chaste. And one of the three shall surpass his father as the lion surpasses the leopard in strength and hardihood. He shall be held as master and sheperd over all his fellows; and the companions of the Round Table will consume their days in bootless pursuit of the Holy Grail until such time as Our Lord shall send him among them so suddenly as to confound them all".
Merlin than made a magic seat that passed in size and splendour every other.
Then the knights asked if those who sat there unduly would be in danger of their life; Merlin answered indeed, "and on account of the dangers that shall follow on it, it shall be known as the Seat of Danger".

We all know the legend, Perceval will end as King of the Grail, and Lohengrin, his son, will later take his place.
The others will keep on searching for perfection in a world full of dangers and miracles, telling their own stories over and over again, so that the "chain" is never broken, through the centuries.
That is why in some legends about the foundation of masonry we are told it goes back to the Round Table, when in fact the official Anderson's Constitution is dated 1723.
In modern times, I cannot think of anyone else but Wagner to give us a deeper insight into those magical times.
Read and listen to Lohengrin and Parsifal.
We could say that the legends of the Quest are all tales of transformation ( as some of Goethe's, see the Maerchen), and in that sense they belong to our universal, archetypal mundus imaginalis.
East and West have kept in their oral or written traditions such beautiful legendary memories.
No wonder a blogger, in IDIOCENTRISM, has asked for a translation of Bernardim Ribeiro's Menina e Moça, a portuguese "novela cavalheiresca", printed in Ferrara, 1554.
The knights are many, few the chosen, and Bernardim, having written in ancient Portuguese, has had some difficulty to reach the fame of those who wrote in ancient French or English.
Although Eschenbach, in his Parzival, mentions the Portuguese knights as "les plus téméraires" on account of the bravery of their many deeds.

Image taken from a tapisserie after a sketch of Burne-Jones (1833-1898), Birmingham Museum and Art Gallery

Friday, December 08, 2006

Les Demeures Philosophales



De novo Fulcanelli, ou Canseliet por ele.
Repare-se, nesta imagem de um manuscrito do século XV, como as indicações são mais claras do que secretas.
Ao alto da figura podemos ler:
"Busquemos a natureza dos quatro elementos no seio da Terra".
E em baixo:
Aqui começa a Solução dos Filósofos
e se faz o nosso Mercúrio".

A alusão é à natureza primordial, que é necessário conhecer e entender para que se processem as transformações desejadas.
Na parte inferior do vaso hermético temos o par de cuja união nascerá o philius philosophorum e emergindo do vaso o RER figurado nas três flores ainda fechadas, as três substancias com duas partes de uma ( a mesma côr ), e uma parte de outra ( a côr diferente ).

Mais REBIS


Para uma primeira leitura, agradável e com belas imagens, este "florilégio da arte secreta", como lhe chama o autor.

Rebis alquimico


É Eugène Canseliet, ao editar a obra de Fulcanelli LE MYSTÈRE DES CATHÉDRALES, que nos dá a solução do enigma alquímico que se encontra na Chapelle de l'Hotel Lallemant e Fulcanelli reproduz.
São muito os nomes atribuídos à pedra filosofal: é água, é pedra, é fogo, é matéria, é coisa desprezível, mas é também sublime luminosa, gloriosa, ascende ainda em alguns textos à denominação de Virgem sagrada, de Cristo ressuscitado ( como no Rosarium Philosophorum) é a matéria negra ou a matéria branca- enfim o que se conclui da abundância de nomes é que se trata de um arquétipo da complementeridade de opostos :
trevas/ luz
macho/ fêmea
dia/ noite
branco/ negro
etc.
Apelidada de "coisa" res /rerum na declinação latina, o ablativo é RE e o enigma significa que estamos perante "uma coisa dupla" RERE, sendo na verdade o REBIS alquímico, o andrógino sublimado e perfeito depois de consumadas as operações para o alcançar.
Escreve Canseliet ( sempre se duvidou da existência do sábio Fulcanelli ):
"RE, ablatif du latin de res, signifie ' la chose ' envisagée dans sa matière. Puisque le mot RERE est l'assemblage de RE, une 'chose', et RE, une autre 'chose', nous traduirons deux choses en une, ou bien une double chose, et RERE équivaudra ainsi à REBIS....Le mot rebis, employé par les philosophes caractérise leur compost, ou composé destiné à subir les métamorphoses successives sous l'influence du feu.
Résumons:
RE, une matière sèche, or philosophique;
RE, une matière humide, mercure philosophique;
RERE ou REBIS, une matière double, à la fois humide et sèche, amalgame d'or et de mercure philosophique" ( p. 204 )

Mas não nos esqueçamos que este vocabulário oculta, ou aponta um caminho de espiritualização e que embora aludindo sempre a imagens materiais, elementares ou químicas é sobretudo, quando não sempre, da procura do entendimento dos fenómenos do espírito e da alma que se trata.

Quanto ao outro vocábulo RER incluído ainda nas linhas do enigma:
Aqui sim, trata-se de uma proporção indicada para as matérias que estejam a ser manipuladas: duas partes de uma, seja ela qual fôr, para uma parte de outra, seja ela qual fôr.
Quanto ao resto, Canseliet diz, para aumentar a nossa curiosidade, que não lhe é permitido "rasgar o véu do mistério que a palavra encobre".
Mas não é preciso. Há arte suficiente, e filosofia suficiente, na meditação dos conceitos que sob a imagem do REBIS prendem a nossa imaginação.
Remeto para a escultura do HERMES bifronte que já coloquei no blog, fusão de um rosto masculino e de um rosto feminino como suporte de culto antigo, neste caso alusivo ainda a Dionisos, pelos ramos de videira que ornamentam a cabeça dupla.
Segundo a antiga literatura atribuída a Hermes, mítico pai da alquimia, enxofre e mercúrio são "os pais da pedra"; pois teremos então aqui possivelmente a indicação dos "componentes" necessários, depois é treinar ao fogo da paciência, a proporção correcta.
Mas: o enxofre é masculino, o mercúrio é feminino e isso nos remete de novo paara o Rebis como complemento de opostos.

Wednesday, December 06, 2006

RERE



Enigma alquímico.
Deixo uns dias para ver quem o decifra.
Depois darei a explicação.

RERE
RER
RERE
RER
RERE
RER

Tuesday, December 05, 2006

Black Virgins III



Notre-Dame-De-Confession.
Vierge Noire des cryptes de Saint-Victor à Marseille.

Our Lady of Confession.
Church of Saint Victor in Marseille (France)

See FULCANELLI, LES MYSTÈRES DES CATHÈDRALES, Paris, 1964

Dreams and Quests



Sir Gawain warned in Vision:

"...It seemed to Sir Gawain as he slept that he stood in a meadow of greenest grass all studded with flowers.There was a hayrack in this field where a hundred and fifty bulls were feeding.The bulls were proud, and all but three were dappled. Of these three, one was neither truly dappled nor truly white, but bore traces of spots; and the other two were as white and resplendent as they could be.These three bulls were coupled together at the neck by strong, unyelding ykes. The bulls exclaimed in a body: let us go farther afield to seek out better pasture!
And with that they all moved off and wandered, not in the meadow but out across the moor, and were a long time gone. When they returned there were many that were missing, and those that came back were so thin and weak they could hardly stand.Of the three withou spot, one returned and the other two stayed behind.When they were all assembled round the hayrack they fell to fighting among themselves till their fodder was destroyed and they were forced to go their several ways.
Such was the vision of Sir Gawain."

Sunday, December 03, 2006

Domingo de Chuva



Um bom domingo de chuva com uma ópera raramente apresentada na íntegra, DIE FRAU OHNE SCHATTEN, de Strauss,com libretto de Hofmannstahl.Foi a sua sétima ópera e quarta de colaboração com o poeta austríaco, louvado ao tempo como uma das maiores glórias líricas da língua alemã, depois de Goethe. De Strauss talvez não seja a melhor obra, contudo a dimensão simbólica do texto faz dela mesmo assim um objecto de estudo muito valioso. Consideravam-na a sua FLAUTA MÁGICA, o que mostra como a ópera de Mozart deixou marcas perenes na cultura musical e não só. Mistério, jovialidade, esperança e realismo foram os ingredientes que nesta obra também iremos encontrar.
A Mulher sem sombra, oriunda do reino dos espíritos, tem de adquirir esse atributo que é só pertença dos humanos. A sombra é a projecção da sua anima, não a possuir é viver ( ou morrer ) com a falha da incompletude. Assim começa então a aventura desta mulher, casada com um imperador, podendo reinar na terra, mas a quem o pai, ciumento e zangado com a sua escolha, ameaça castigar, petrificando o marido. Maldição grave, pois o homem petrificado é aquele que também não poderá viver completo e de acordo com a sua natureza, neste caso procriar e deixar descendencia. Tudo se resolverá, como na Flauta Mágica, pois esta pretende ser uma ópera moralizante e feliz.
A sugestão que faço é a da direcção de Sir Georg Solti, acessível em dvd da Decca, pois Solti foi dos raros, ou talvez o único que, por respeito à dimensão literária, decidiu apresentar a obra na íntegra, sem os cortes que até ele eram habituais.

Para Strauss o libretto não parecia constituir nenhuma dificuldade: " não são símbolos simples? escreve ele a agradecer a recepção do segundo acto, em 1914;" o imperador que tem de ser transformado em pedra, a mulher que não tem sombra, são tudo coisas que qualquer um pode entender".Trata-se no fundo de um conto de fadas , como o conto da serpente verde de Goethe. O mundo subliminal tem de ascender a uma realidade natural, que dê espaço à vida e ao serviço da humanidade.

O acto III foi escrito durante o período da guerra de 1914-18 e isso intensifica a mensagem do texto - de respeito pela vida humana ou de castigo pela sua recusa.

As duas Faces do Hermes




Repare-se agora melhor nos detalhes da escultura: o rosto masculino barbado, mas belo, o feminino mais jovem e de beleza que será sempre renovada, como a da Vénus eterna.

Hermes bifronte


Exposição do Museu Nacional de Arqueologia, nos Jerónimos. Belíssima, bem organizada, com boa informação sobre todos os locais onde se encontraram peças da antiga Lusitânia e da presença Romana entre nós.
Obrigatória uma visita, para pais e filhos professores e alunos ou simples amantes do que é belo.
Este Hermes bifronte, de ornatos dionisíacos (ramos de vinha) coroando a sua cabeça masculina e feminina, diz tudo o que há a dizer sobre a dimensão simbólica do mito : mito de união de opostos , trevas-luz, noite-dia, sol-lua, vida e morte tudo fundido no destino do homem que o celebra.
A escultura fala por si.
A face masculina tem uma barba a conferir-lhe nobreza mais madura, a feminina é de uma jovem, como sempre jovem permanece a vida que renasce em cada Primavera.

( two-faced Hermes, 1. century A.D. found in Cacela, Algarve )

Para a leitura do mito, Pierre Grimal.
Para as Religiões da Lusitânia, José Leite de Vasconcelos.

Saturday, December 02, 2006

STROMBOLI


Ursache der Vulkane:

Uranfaengliches Gluehendes Erdkoerpers.

Immerfort wirkend. Aus der Tiefe nach oben.

(esboço e apontamentos de Goethe na viagem a Itália)

Sizilianische Landschaft



Parabase

Freudig war, vor vielen Jahren,
Eifrig so der Geist bestrebt,
Zu erforschen, zu erfahren,
Wie Natur im Schaffen lebt.
Und das ist das ewig Eine,
Das sich vielfach offenbart;
Klein das Grosse, gross das Kleine,
Alles nach der eignen Art.
Immer wechselnd, fest sich haltend;
Nah und fern und fern und nah;
So gestaltend, umgestaltend-
Zum Erstaunen bin ich da.

( desenho e poema de Goethe )

Liberalitas



From the same book, Generosity, and the following motto:

Crede mihi Res est ingeniosa dare

"Believe me, to give is a thing of genius".

Theres is genius in heaventree and here are my Greetings for the coming New Year.

Friday, December 01, 2006

The Garden of Love in a Baroque Way


Théatre d'Amour, a lost book from the age of the Baroque:

So manches Landt so manch Manier
So mancher Kopf so mancher Sin
An art complexion und zier
Mit funf ich doch zu frieden bin.

So many lands, so many customs,
Natures, temperaments and fashions.
So many people, so many opinions;
With five (senses) however, I am content.



I dedicate this post to the Knight and Companions of heaventree,
wishing them all a festive, loving, happy Christmas.

Black Virgins II



Black Madonna of Montserrat in Spain.
12th. century byzantine, although the story runs that the statue was carved by St.Luke.
Mons serrata, the mountain divided,serrated, is a magical place outside Barcelona. The monastery built on its peak shows an angel with a saw that goes back and forth.The mountain bears flowers and fruit and trees, even in Winter, as if it had been doomed or sacred for that purpose.
The Benedictines of the monastery saw in this exuberant capacity a symbol of the fertility of the Virgin herself. Her intercession is still begged by women who want children, or a blessed birth for them, as it was usual in the Middle Ages.
Montserrat retains its fame as a shrine of healing and growing, and is still much visited by newly married couples.
Black Madonnas are found and worshipped in many shrines: Chartres, Rocamadour, Loretto, Orléans,S.Maria Majore in Rome, to name just a few.
Their blackness is explained by the Song of Songs:
"I am black, but comely, o ye daughters of Jerusalem".
(Song of Salomon, 1:5 )
Some images are carved in ebony and that may be a reason for their mistery and special "earthly" esoteric devotion.
The Madonna of Montserrat is called "la Moreneta", the little dark one, showing a loving tenderness for her difference and blessing powers.