Tuesday, June 19, 2012

Schubert Canto do Cisne

Franz Schubert ( 1797- 1828)
III
Schwanengesang / Canto do Cisne

Neste último ciclo é maior a variedade de estilos e de poemas, talvez porque, sendo póstumo, a organização ficou a dever-se aos seu editor, e não ao compositor.
Os poemas de Ludwig Rellstab (1799 – 1860) teriam sido inicialmente dados a Beethoven, que anotou alguns mas não chegou a compôr; são esses anotados que Schubert terá igualmente escolhido. De um lirismo musical, fluído, rimado e cantado, não formam propriamente um ciclo, pois não há um fio condutor que se adivinhe.
O que há, e era ao gosto do tempo, é uma sucessão de motivos, indicados nos títulos de cada canção: Herbst /Outono, n.1, Liebesbotschaft / Mensageiro de Amor, n. 2, em que nos surge o regato, com a sua água que corre, ligeira e cristalina, como menageiro do amor do poeta.
E assim por diante, com Fruehlingssehnsucht /Saudade da Primavera, n4, até ao poema final, intitulado precisamente Abschied / Despedida, n.8. 
Por muito que se estranhem, num compositor devoto de Goethe e de Heine, estas escolhas mais humildes,  os poemas musicados foram também esses e não outros, e a razão pode prender-se com uma simplicidade que permitia, de tão nua, elaborar melodia e harmonia de forma muito mais livre e mais consentânea com a sensibilidade do compositor.  No Canto do Cisne podemos mesmo assim detectar uma evolução no sentido e no gosto das escolhas. É nesta altura e nesta fase que se desenvolve, com Novalis e Friedrich Schlegel, o conceito de “Fragmento como forma literária de arte” assumindo assim o pleno desafio do Fragmento, da Obra Aberta. 
Na arte do fragmento podia-se fundir filosofia e poesia, um pouco como se verificava nos Ditos, Aforismos, Máximas e  Reflexões ( de um Goethe, por exemplo).
Forma contida, de inspiração oriental (no West-Oestliche Divan de Goethe,a relação é directa ) desafiava o espírito por não ser conclusiva mas antes deixando em aberto, ou em suspenso, a conclusão a tirar. Podia ter carácter moralizador (como em de la Rochefoucauld). Mas o que tinha, acima de tudo, era uma preocupação poética, estética, bebida na ideia de Belo de Platão, mas sobretudo deixando ao leitor ou ao ouvinte um espaço mais largo para a sua própria imaginação criadora, fundindo-a num Todo com a obra apresentada.
 Neste dvd assistimos a uma reflexão do cantor sobre a sua arte, sublinhando a importância de ser fiel a um sentido íntimo que a sua interpretação deverá acompanhar.
Lições de Mestres...



Wednesday, June 13, 2012

Orfeu nos Infernos: a desconstrução de um mito

Orphée aux enfers é uma ópera-bufa composta por Jaques Offenbach, com libreto de Ludovic Halévy posteriormente revisto por Hector-Jonathan Crémieux.
A primeira apresentação data de 1858 e foi considerada a primeira opereta clássica com tal nome.
O libreto recupera a mitologia grega como divertimento por vezes delirante e sempre em busca de uma gargalhada divertida.
É um bom contraponto à melancolia do mito tradicional, sombrio, como nos surge na bela peça de Gluck.
O enredo envolve os dois deuses, Júpiter no seu Olimpo, Plutão no seu Hades, para onde Eurídice, cobiçada por ambos, deveria ter ido.
Neste fragmento Júpiter, sob a forma de mosca, seduz a bela, levando a melhor sobre as trevas ( e sobre o triste Orfeu! )
Coisas dos deuses....

Thursday, June 07, 2012

A Princesa Pele de Burro

Um Conto de Charles Perrault actualizado pelo olhar de Jacques Demy, com música de Michel Legrand e um magnífico cast de actores, de que se destacam Catherine Deneuve, a Princesa, e Delphine Seyrig, a Fada que a protege no seu momento de aflição, quando o Rei, viúvo (Jean Marais) se apaixona pela própria filha.
Todo o Conto tradicional encerra uma lição: neste caso a do impulso do incesto, pulsão ancestral, primitiva (basta recordar os episódios das filhas de Moisés no Antigo Testamento) que a Fada explica e contraria, numa Área subtil e cheia de humor, que desdramatiza o facto enquanto lhe encontra solução: a fuga e a pele de burro que cobrirá a Princesa.
Sendo que o burro é o animal que melhor simboliza as pulsões primitivas que na evolução dos costumes, na moral social, terão de ser sublimadas.
Deve-se ler, a este propósito, o Burro de Ouro, de Apuleio, filósofo do século II da nossa Era, obra a que Marie-Louise von Franz (ilustre discípula de Jung) dedicou um estudo muito elucidativo.
Com mais ou menos erudição, o mundo de encanto e maravilhamento que Deneuve nos traz, neste filme, merece a revisita que aqui deixo.

Saturday, June 02, 2012

Bob Wilson, a Rainha e o Poeta...

 A apresentação dos Sonetos de Shakespeare, pela mão genial de Bob Wilson.
A História de Inglaterra está presente - revela-se na figura orgulhosa da Rainha Isabel I, Mecena das Artes.
O Poeta é o que são todos os poetas....inspirados, mas sempre dependentes!
A recriação do Soneto: um momento do génio criador de Bob Wilson; sabe como evocar um mundo de sonho e fantasia e ao mesmo tempo desconstruir a obra no nosso imaginário.
A leitura surge no fim, em alemão, pois foi uma produção do Teatro de Hamburgo, com os actores com que Wilson, desde o Black Rider, se habituou a trabalhar.
Fica o repto: quem fará algo de semelhante com os Sonetos de Camões?