Wednesday, December 30, 2015

Os Outonos de Rilke

RILKE (1875-1926)

Dia de Outono

Senhor: já é tempo. O Verão foi enorme.
Espalha as tuas sombras no relógio solar,
E solta enfim os ventos nas planícies.

Ordena crescimento aos frutos em atraso;
dá-lhes apenas mais dois dias de sul,
faz que amadureçam e apressa
o último adoçar na espessura do vinho.

Quem não tem casa ainda, já casa não terá.
Quem está sozinho agora, mais tempo ficará,
há-de acordar, há-de ler, longas cartas escrever
e há-de passear para cá e para lá nas alamedas
vagueando inquieto, sobre as folhas que caem.

 (versão livre, Y.K.Centeno)

Outono

Caem as folhas, caem lá do alto,
como se murchassem longe os jardins do céu;
caem como que negando a sua queda.

E a terra, pesada, ao cair das estrelas
entra na solidão das noites.

Todos nós caímos. Cai esta mão aqui.
E olha para a outra: está em todas.

E há Um, no entanto, que suavemente
guarda nas suas mãos essa infinita queda.

(versão livre,Y.K.Centeno)